A intenção da criação deste blog se fez perante a necessidade de uma discussão séria sobre um dos gêneros mais polêmicos de todos os tempos dentro do metal, o black metal.
Este estilo tem particularidades ideológicas, filosóficas e musicais, que o distinguem de outras vertentes do metal.
Além disso, será debatido os vários subgêneros dentro do Black Metal para buscar compreender o porque destes diferentes rótulos, tais como pagan, atmosferic, NSBM, entre outros.
Por fim, serão postados entrevistas, álbuns e vídeos de bandas relacionadas ao estilo, assim como texto de grandes pensadores que influenciaram o Black Metal como um todo.

domingo, 2 de junho de 2013

BEGOTTEN

Capa do filme Begotten de 1991.

Ao se deparar com este texto, o leitor pode se questionar com a seguinte pergunta. Porque postar sobre um filme num blog de Black Metal? Pode parecer estranho, mas este filme tem algo em particular que está altamente ligado ao Black Metal, o sofrimento, total inspiração do estilo conhecido como Depressive Black Metal.

Deparei-me com esta obra quando um amigo me mostrou o clipe de uma banda sueca chamada Silencer que continha imagens do filme e fiquei realmente surpreso, pois nunca tinha visto algo tão sofrido em toda a minha vida, mas inicialmente pensei que fora algo criado pela própria banda. Contudo, em uma conversa com um amigo da internet Arghus Belial, o mesmo me revelou que este clip continha imagens de um filme de terror conhecido como Begotten de Elias Merhige de 1991.

A partir daí, minha primeira providência foi baixar e assistir o filme, mas como não tinha lido nada a respeito, não entendi quase nada do que o filme queria transmitir mas, independente de sua compreensão, existe algo que você percebe com clareza, o sofrimento, que é latente em todo o filme, de tanto sofrimento, você começa a se sentir incomodado ou até mesmo perturbado com ele; a dor, a angústia e a morte fluem por todo o filme. 

Uma das várias cenas de sofrimento de Begotten.










Sinceramente, apesar de uma grande inspiração para o Black Metal, em particular para o Depressive Black Metal, o filme em si é meio chato por não ter som, ser todo em preto e branco, e ficar com vários barulhos repetitivos que se alternam ocasionalmente por alguns sons de fundo, que aparecem em situações pontuais do filme. Isso faz provocar até um pouco de sono em quem está vendo. 

Silencer - Banda de Depressive Black Metal sueca que se inspirou em Begotten para fazer o clip da música Sterile Nails and Thunderbowels.



Mas uma coisa em minha pesquisa sobre o filme me fez interligá-lo ao Black Metal, foi um comentário de um seguidor da página do filme que dizia: “Este é um filme Black Metal”, e isso faz todo o sentido, por isso que este filme serviu de inspiração para várias bandas, dentro ou fora do estilo do Black Metal, como Silencer (clip da música Sterile Nails and Thunderbowels), Katatonia (capa do ep Sounds of Decay) e até mesmo para um clip do Marylin Manson. Mas como não sou crítico e interpretador especializado de filme, busquei informações de quem entende realmente do assunto, então vamos a uma definição mais elaborada do filme. 


Capa do mini cd do Katatonia - Sounds of Decay inspirado em Begotten.


Albúm do Marilyn Manson - The Antichrist Superstar que possui a música Cryptorchild que foi dirigido por Elias Merhige e contém cenas de Begotten.
Begotten é um filme experimental/Filme de terror de 1991, escrito e dirigido por E. Elias Merhige.

O filme lida fortemente com religião e com a história bíblica do Gênesis e da Criação.

Mas como Merhige revelou durante sessões de Perguntas e Respostas, a sua principal inspiração foi uma experiência de quase morte que ele vivenciou quando tinha 19 anos, após um acidente de carro. Não há diálogos no filme, mas em seu lugar usa indiscriminadamente fortes imagens de dor e sofrimento humano para contar seu mito.

Foi filmado em preto e branco, e então cada quadro foi refotografado para tomar sua aparência final. Não há meio tons. Isto foi feito para dar a atmosfera sobrenatural do filme, e algumas vezes o espectador não consegue interpretar exatamente o que está sendo mostrado, mas pode inferir um sentido de sofrimento. O visual do filme é descrito no trailer como "um teste de Rorschach* para os olhos". Merhige disse que para cada minuto do filme original, tomou-se 10 horas para refotografar até atingir o visual desejado.

Merhige também já revelou, em sessões de Perguntas e Respostas, que ele gostaria que este filme fosse o primeiro de uma trilogia. Ele está tendo dificuldades para obter o apoio financeiro apropriado, e atualmente não é sabido se os outros dois filmes serão feitos (até hoje foi lançado apenas mais um filme chamado Din of Celestial Birds de 2006, um curta de apenas 14 minutos).


Elias Merhige - Diretor de Begotten.
“Abaixo das imagens descartáveis da vida cotidiana, banal, há apenas o tribal, o indelével e o atemporal. Estas imagens são criadas. A existência é cíclica. Nascimento cria vida, vida cria morte, morte cria renascimento”.

“Begotten” não é um filme que possa ser classificado num gênero específico, é difícil pensar em que ponto ele se prende ou ele pode ser classificado. Mas, de qualquer forma, a primeira impressão que temos ao depararmos com as imagens desse filme, é a de que podemos classificá-lo como um terror profano, sem escrúpulos e um tanto quanto gratuito. Mas esse é o principal erro. Se há uma coisa que não devemos fazer é classificar “Begotten” como vulgar. “Begotten” é um filme no mínimo revolucionário e completamente artístico.

O filme é conseqüência dos trabalhos de um grupo denominado Threate of material, criado em 1985 pelo também criador, diretor e roteirista de “Begotten”, Edmund Elias Merhige. Inspirado pela arte expressionista e cultura tribal, o grupo não diretamente foi reconhecido e só foi mais tarde entrar para o ramo do cinema com este “Begotten”.

“Begotten” pode parecer um transbordamento de idéias mal expressadas em imagem ou grotescamente expressadas, mas, se formos parar para pensar, a arte se expressa de diversas formas e, claro, nem sempre é bela ou “ética”, sempre é interpretada de diferentes maneiras e quase sempre são levadas mais em conta os insultos, ainda mais quando a estética de uma obra causa uma repulsa em primeiro plano.

A imagem que se estabelece sobre algo por alguém é formada por opiniões alheias muitas vezes. Mas somente quando essa pessoa entra em contato com essa determinada obra é que ela realmente entende ou tira sua conclusão própria. Mas é muito comum que, quando as críticas alheias são pessimistas, essa pessoa já tem um olhar pessimista sobre o objeto e logo toma repulsa sem nem antes mesmo ter tirados suas próprias conclusões – e vice e versa. O que se forma diante deste filme é exatamente isso, pois é um filme feito, tanto filosoficamente para arte quanto para chocar e transmitir uma idéia. As críticas negativas simplesmente a julgam como lixo sendo que seu conteúdo poderia ser transmitido de uma forma mais formal. Mas, se fosse de tal forma transmitida, não geraria o impacto adequado para a proposta.

“Begotten” em si é uma obra revolucionária esteticamente e filosoficamente. Merhige usou de contrastes e mais contrastes para criar algo perfeito a seus olhos, que pudesse se sobrepor ao formato estético “padrão”. Sua intenção foi criar algo velho, porém novo ao cinema. Procurou não deixar o filme parecer um filme dos anos vinte ou dez, “mas sim como se fosse da época de Cristo, como se fosse um manuscrito do Mar Morto cinemático enterrado nas areias”. O processo de contraste das imagens levou de oito a dez horas para cada minuto da película.

O filme conta com seqüências deveras impressionantes e chocantes. A cena mais marcante e mais conhecida são os quinze minutos iniciais, horrendo e estranhamente calmo. Sem uma trilha sonora musical, a maior parte do início se desenrola com sons perturbadores. A carne sendo cortada, os gemidos de quem se corta e o exaustivo som do ponteiro de um enorme relógio preso na parede. Os gemidos são caracterizados por sons de um sofrimento contido, sem altos.


O filme começa numa casa abandonada em um lugar distante onde um homem mascarado segura uma navalha e vomita sangue. É bastante chocante e impressionante, pois tudo ocorre tão naturalmente que sua naturalidade choca. Esse homem de aparência indescritível – o efeito de contraste ajuda a realçar o medo e dor nos olhares e gera pânico – esvicera-se com movimentos sistemáticos e contínuos, com uma velocidade torturante. Nisso, escorre por suas pernas uma massa estranha, que lembra terra. Agora morto, surge uma mulher. Ela masturba o cadáver até a ejaculação, tomando o sêmem com as mãos e levando-o à vulva, engravidando então. Tudo se segue em um ritmo lento e natural.

O parto acontece e o filho nasce inquieto, convulsionando. Não demora e um grupo misterioso de homens vestidos com mantos pesados e escuros aparece e estupra a mãe com uma espécie de aríete. Dela nascem rios e águas, enquanto seu filho é esmagado e plantado na terra. Os nomes não poderiam ser mais justificáveis ou simbólicos, relacionando-se perfeitamente com a trama simbólica: “Deus suicidando-se”, “Mãe Terra” e “Carne sobre Ossos”. Mesmo que o filme se limite pelos fatos contados por mim aqui, não se pode ignorar o fato de o filme ser muita estética e reflexão, ou seja, não adianta ler o filme sem vê-lo, a imagem aqui completa o sentido ideológico da história.

Quadro representando "Deus suicidando-se", uma das imagens mais pertubadoras de Begotten.



"Mãe Terra", grávida do filho de "Deus" "Carne Sobre Ossos".

"Carne Sobre Ossos"
Sentir o filme é quase insuportável. Então o que fica é entendê-lo, mesmo que seja quase inevitável estar presente e senti-lo. Compreendê-lo é a melhor maneira de extrair do filme seus significados.

O filme é completamente descompromissado moralmente e comercialmente. Não foi feito para o público, o público foi feito para ele e isso não nos é jogado na cara. Não procura ser orgulhoso muito menos jogar ao mundo uma idéia, é o tipo de idéia que precisa ser alcançada e isso o filme faz filosoficamente, o que, não excluidamente, poderia gerar discussões sobre o tema, sobre a vida e sobre o, hoje em debate, renascimento.

Contudo, o filme foi feito com um orçamento familiar de 20.000 dólares, nenhum dos atores foi pago e a película é somente exibida em festivais. Seu conhecimento, expansão foi dada devido a alguns fatores, como o selo World Arts tê-lo lançado em DVD e um dos clipes do músico Marilyn Manson ser inspirado nesse – mais especificamente, o vídeo clipe “Antichrist Superstar”, que arrecadou prêmios em festivais de cinema.

Pura metafísica, “Begotten” é o tipo de filme que não precisa ser assistido, mas também é uma experiência única, transcendental do puro horror visual.



*Nota Complementar: O Teste de Rorschach é uma técnica de avaliação psicológica pictórica, comumente denominada de teste projetivo, ou mais recentemente de método de auto-expressão. Foi desenvolvido pelo psiquiatra suíço Hermann Rorschach. O teste consiste em dar respostas sobre com o que se parecem as dez pranchas com manchas de tinta simétricas. A partir das respostas, procura-se obter um quadro amplo da dinâmica psicológica do indivíduo. O teste de Rorschach é amplamente utilizado em vários países.


O Teste de Rorschach, de 1921 consiste em 10 lâminas com borrões de tinta que obedecem a características específicas quanto à proporção, angularidade, luminosidade, equilíbrio espacial, cores e pregnância formal.




Estas características facilitam a rápida associação, intencional ou involuntária, com imagens mentais que, por sua vez, fazem parte de um complexo de representações que envolvem idéias ou afetos, mobilizando a memória de trabalho.



A aplicação do Teste de Rorschach é feito individualmente, não havendo aplicação em grupo. Na aplicação, as lâminas são apresentadas uma de cada vez, sendo solicitado ao examinando que diga com o que acredita serem parecidos os borrões de tinta. Diante deste convite à contemplação e associação aos borrões impressos nas pranchas, hipóteses de respostas são ativadas, colocando à prova as funções psíquicas de percepção, atenção, julgamento crítico, simbolização e linguagem. Concomitantemente à execução destas funções psíquicas na avaliação das hipóteses frente às manchas, os processos psíquicos afetivo-emocionais, motores-conativos e os cognitivos concorrem para a formulação final da resposta. As respostas ao Rorschach, portanto, revelam o status da representação da realidade em cada indivíduo, trazendo dados a respeito do desenvolvimento psíquico, das funções e sistemas cerebrais, dos recursos intelectuais envolvidos na construção das diferentes imagens, das articulações intrapsíquicas e da natureza das relações interpessoais.
           
Como o Teste de Rorschach avalia a dinâmica de personalidade particular a cada pessoa, não se deseja, a partir de seus dados, atribuir um diagnóstico psiquiátrico. Pretende-se, no entanto, contextualizar os distúrbios psíquicos, compreender o valor e o significado de um sintoma clínico e orientar para o tratamento mais adequado.

O inventor do Teste de Rorschach - O psiquiatra suiço Hermann Rorschach.

Exemplos de Teste de Rorschach.


Link para o clip da banda Silencer:  http://www.youtube.com/watch?v=z7BQYv5zoEk








Informações extraídas da Wikipédia, site Cine Players e do site Rorschach Teste On Line.

Texto editado, arranjado e transcrito por Alver 1349.