A intenção da criação deste blog se fez perante a necessidade de uma discussão séria sobre um dos gêneros mais polêmicos de todos os tempos dentro do metal, o black metal.
Este estilo tem particularidades ideológicas, filosóficas e musicais, que o distinguem de outras vertentes do metal.
Além disso, será debatido os vários subgêneros dentro do Black Metal para buscar compreender o porque destes diferentes rótulos, tais como pagan, atmosferic, NSBM, entre outros.
Por fim, serão postados entrevistas, álbuns e vídeos de bandas relacionadas ao estilo, assim como texto de grandes pensadores que influenciaram o Black Metal como um todo.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Luvart






      A banda Luvart foi formada em 1993 na cidade de Juiz de Fora – Minas Gerais, lançando a demo Killing for Religion em 94 com a sonoridade simples bem típica da época com suas limitações de gravação. Sonoridade sombria, seca, arrastada e com o vocal na linha de Passage to Arcturo (Rotting Christ), Soulside Journey (Darkthrone), característica que mudaria em seu retorno após o adormecimento em 1995 dando lugar a guturais mais brutos na linha típica do death metal dos anos 90. A demo seria relançada em 2010 pela Puta Madre Productions em formato cd junto a primeira demo Terror Stench do Coldblood. 

     É uma banda que faz pouquíssimas apresentações ao vivo, porém de grande qualidade. Soa quase como ouvindo seus materiais de estúdio.



Killing for Religion - 1994 

      



Luvart anos 90




Split cd Coldblood / Luvart



     Em 2009 Brucolaques consegue reunir mais 3 integrantes para o retorno da banda e já em 2010 conseguem fazer o resgate do trabalhalho que parou em meados dos anos 90 com a demo Bestial Devotion. Simbolicamente muito importante para o retorno da banda, aqui encontramos grande evolução na qualidade de gravação com a mudança da característica dos vocais para o gutural mais bruto. A demo conta com quatro faixas e foi lançado no formato clássico da tape de forma independente. Formação: Brucolaques - baixo, Baalmoth - vocal/guitarra, Marbas - guitarra e Blood Devastator - bateria.




Bestial Devotion - 2010
Marbas, Baalmoth, Blood Devastator e Brucolaques












    




     Mas o grande trunfo do Luvart ainda estaria por vir  em 2012 com o grande álbum Necromantical Invocation através da Hammer of Damnation consolidando a banda entre os melhores lançamentos do ano para o underground extremo nacional. Aqui fica provado o talento musical e o entendimento da banda a respeito do satanismo com entrevistas esclarecedoras como para o Revelações Abissais Zine ao qual a banda divulga no site da Pure Holocaust junto a seus materiais. Uma antiga distro de Brucolaques que agora distribui somente os materiais do Luvart. Aos interessados em adquirir os materiais originais da banda fica o contato: www.pureholocaust.loja2.com.br.

     Alerto que para quem está acostumado apenas com porradaria a banda pode soar um tanto repetitiva e cansativa, mas quem aprecia esse tipo de sonoridade pouco praticada hoje em dia irá encontrar uma mina de ouro.




Necromantical Invocation - 2012



Blood Devastator, Brucolaques e Luggal Merodach




     O álbum se inicia com uma porrada death/black energizante, são 40 segundos de pancada adentrando ao reino do caos! Mas o clima cai de repente com rifes cortantes e nos damos conta que estamos no abismo mesmo. A música é carregada tanto no ritmo quanto em energia, o clima é denso. Aquele início esmagador do álbum fica pra trás e a brutalidade ganha forma diferente. Os momentos mais rápidos agora em To the Kingdom of Chaos são os rifes cortantes que aparecem 3 vezes na música e agora finaliza o primeiro parágrafo da letra onde o pedal duplo dá um embalo cativante (An unsuccessful symbol for an inactive and impotent god/ Um símbolo fracassado para um deus inativo e impotente). Após outro parágrafo o clima cai ainda mais, dedilhado acústico a lá Dissection e um pequeno solo desolador. Os dedilhados continuam e se juntam ao peso da guitarra e baixo enquanto citam a trindade diabólica: Satanás, Lúcifer e Belial. A música se segura por um tempo em rifes abafados e pesados e novamente aparece pela ultima vez o rife cortante a qual o considero uma das partes mas cativante da música nos levando novamente a base dela que após mais um parágrafo se encerra. Uma das melhores faixas do álbum em minha opinião.
      
     Luvart que é o príncipe dos anjos negros maléficos, o demônio do pecado incerto e ocasional, sendo esta entidade pertencente à terceira ordem dos anjos caídos da primeira esfera, chamados Tronos (que significa “anciãos”) ... segundo Brucolaques em entrevista no site www.goregrinder.net (entrevista feita para o zine Blasfêmias do Espírito).

     Sobre as influências sonoras eu destacaria o Samael, seria aquela sonoridade dos clássicos do Samael com uma roupagem mais bruta, inclusive pelo vocal gutural. No Brasil a banda tem bastante influência do Murder Rape e também me lembra aqueles intervalos de pancadaria do Mystifier onde a sonoridade se torna cadenciada ou arrastada. Também vai uma pitada dos rifes mais macabros do Black Sabbath do início da carreira.
     
     A segunda faixa se inicia com um pedal duplo certeiro e rifes pesados a lá death/black cadenciado logo em seguida dando lugar aos característicos e sempre presente abafados com uma guitarra solo bem no fundo complementando o clima sombrio. Returno of the Legion se lança ao abismo com passagens arrastadíssimas e um solo bem agudo também presente. Bateria quebrada e com boas variações e viradas marcam o álbum e a faixa principalmente.

     Importante destacar também é a arte visual do encarte do álbum com todas as letras e desenhos antigos de fundo, foto da banda, tudo muito bem feito e trabalhado.

     Em seguida vem Necromagick, diferente das primeiras essa já se inicia quase parando, muito arrastada. O álbum é uma ode a morte e essa é uma das que lidam diretamente com a necromancia. A morte está sempre presente junto a conhecimentos ocultos e espiritualidade. Um verso que destaco é “A vaidade se vai com a morte” ... É algo supérfluo e atrapalha a evolução do ser que se fecha cegamente em si, certamente não é algo que você levará para a cova e seus últimos vestígios serão o paraíso dos vermes. Surpreendentemente quando se imaginava não encontrar mais passagens porradas aqui em uma das músicas mais arrastadas ela aparece novamente, bateria ganha força e a porrada come solta. Após quase um minuto a música retorna a sua origem se encerra.

     The Darkness Calls é uma letra apocalíptica e destruição de tudo que é considerado sagrado, quando as trevas tomar conta de tudo e a matéria for devorada. Isso é independente de crença pois a própria ciência afirma o fim do universo com várias teorias diferentes. A musica chega com uma cavalgada lenta, após uma queda de ritmo ela retorna com os típicos abafados e cavalgadas.

     Enfim, a faixa título ... Necromantical Invocation, nem preciso dizer sobre do que a letra se trata. Essa música me lembrou bem o antigo Profane Creation, rifes lentos, arrastados e melancólicos. Clima bem baixo astral, rifes cortantes e vocal seguindo a melodia das guitarras. Pra mim está entre as melhores do álbum. Difícil também não lembrar do Samael.

     Darkened Destiny segue o disco voltando ao arrastadão, No meio da música um momento em que surge claramente a influência dos rifes do Black Sabbath. A banda consegue juntar todas essas influências criando identidade própria com personalidade, seguindo na contra-mão da maré de hoje que normalmente vemos músicas muito rápidas e cheio de metrancas tornando as bandas muitas vezes parecidas.

     Monarchia Demonorum começa na guitarra acústica e em sequência as guitarras e o baixo intimam em um rife de arrepiar que continua em uma levada empolgante. A letra fala dos 72 espíritos presos na arca de bronze pelo rei Salomão, que levado pela vaidade e vontade de escravizar os homens teria cometido o ato. Está entre as melhores do álbum pra mim, junto a To the Kingdom of Chaos e Necromantical Invocation.

     Goddess of the Night já incia com o peso característico porém a guitarra solo dá um complemento a base seca, depois fica um bom tempo apenas com a base solo, sem os rifes pesados no fundo dando um clima mais soturno. A música mantém sempre a mesmo levada, até com um pequeno solo de guitarra, mas o peso retorna para encerrar a música. Uma que também merece destaque, a letra se refere a Lilith, como informado pela banda.

     The Ancient Ritual se caracteriza com um dedilhado acústico que além de iniciar a música, acompanha a base pesada e oca por um bom período. As guitarras cavalgam muito lentamente e os riffs se arrastam naquela escola Samael, Profane Creation. Você também encontra característica do Doom no Luvart...existem momentos muito vagarosos e de climas pesados.



    Pra encerrar com chave de ouro...Pestfera Crucis! Uma ode a Peste Negra que assolou o mundo e devastou milhares de pessoas expondo a fragilidade de nossa existência e ainda mais a dita existência de um deus piedoso que olha e protege os homens. O terror do cristianismo vendo suas preces não valerem porra nenhuma e a doença apodrecendo a sua carne. A música tem início com um piano macabro que chega no auge com um coro mais pesado ainda, as guitarras acompanham e  o andamento lembra o Murder Rape. Uma música bem quebrada e bruta e aquela cadência que não foi deixada de lado a um bom tempo no álbum, nada de bateria corrida a qual pode se contar no dedo os momentos que esteve presente no álbum. O álbum se encerra do mesmo modo que a música Pestfera Crucis iniciou, ou seja...macabro!



Rites of the Ancient Cults - 2015







               









     Acredito que o principal desafio de uma banda que lança um bom trabalho é manter a qualidade. Acontece com várias bandas, lançam um trabalho muito bom e depois não conseguem manter o mesmo pique. Que não foi o caso do Luvart, pois conseguiram evoluir mantendo a mesma pegada do trabalho anterior. A essência permanece e o que veio de novo chegou para somar agregando ao som mais técnica e qualidade. É difícil afirmar se o novo trabalho de uma banda é melhor do que anterior com pouco tempo de audição. Já precipitei em situações parecidas e depois de um tempo acabei vendo que fui levado pela empolgação da novidade e que o novo não barrava os anteriores, mas não acredito que foi o caso. A freqüência com que escuto Rites of the Ancient Cults é bem maior do que com o Necromantical Invocation e acho que agora é questão de tempo para a banda se destacar internacionalmente. Tenho certeza de que se esse material fosse gringo tava todo mundo em cima, o velho complexo do vira-lata ainda existe, mas isso tem que acabar algum dia e acho que já passou da hora visto a quantidade de bons materiais que o Brasil está produzindo e que sempre produziu. O que pode tornar esse passo mais rápido para a banda é que o álbum foi produzido pela Drakkar Productions (South American Division) que possui sua base na França.

     Houve mudança na formação que conta agora com Brucolaques vocal e guitars, Blood Devastator drums e Marbas bass e keyboards. A arte da capa, design e layout ficou por conta de Marcelo Vasco (www.p2rdesign.com) que por sinal está impecável. O álbum possui 8 faixas, sendo uma introdução. As músicas estão bem mais técnicas e com bem mais velocidade em algumas faixas. Mesmo nos momentos mais arrastados a banda está mais bruta com algumas pegadas diferentes do álbum anterior bem ah lá Necros Christos, Black Mass Desecration por exemplo.  Também encontramos mais melodias apesar do clima continuar bruto e carregado, as melodias dão um tempero especial na atmosfera da música que ganha várias passagens de teclado e órgão gerando um clima bem soturno. Esse é o diferencial de Rites of the Ancient Cults, esses instrumentos caíram muito bem nos remetendo ao Murder Rape e a escola grega.

     O trabalho se inicia com uma sinistra intro com teclados e órgão em um clima bem caótico dando a sensação de energias não criadas, onde palavras são sussurradas:

“Primeira criatura deste mundo
 Deusa draconiana das águas primordiais,
 Que precede a existência de todas as coisas
 Uma grande variedade de universo caótico
 Senhora da árvore da sabedoria.
 A chama que tudo consome
 A presença impalpável, mensageira de calamidade.
 A representação real do oculto
 Cujo silvo é a luz das trevas!”

     Vale lembrar que o album é todo em inglês e que essa foi uma tradução que fiz.

     Assim como a introdução, Thy Draconian Majest é uma ode à Tiamat. Após finalizar a intro já entra em cena a brutalidade musical bem naquela linha Slayer, Hell Awaits. Aquela levada inicial da música com aqueles abafadões em andamento mais rápido, coisa de arrepiar...furioso! Essa talvez seja a música mais porrada da banda que mesmo após uma leve cadenciada continua com um pique agitado. Existe um momento em que a velocidade cai e entra em cena aqueles riffs mais tradicionais do Luvart que ficou bem marcante e destacado do restante da musica. Thy Draconian Majesty está entre as melhores do álbum e da carreira da banda.

     At the Gloomy Sky começa numa porradaria desgraçada, esse album realmente está bem mais furioso. Depois cai pra passagens quebradas e cadenciadas, lembrando mais o estilo Necromantical Invocation. A letra é sobre a entidade Anu e seus descendentes Annuna.

     The Path of Serpents começa no mesmo ritmo arrastado que sua anterior acabou, pequenas passagens de órgão e o arrastadão segue com o peso tradicional. Essa também ficou bem característica do álbum anterior.

     Summoning the Black Light inicia com dedilhados e guitarra solo na linha do Dissection até que entra em cena o peso típico. A música evolui pra uma levada bem violenta, lembrando aquelas levadas do Necros Christos. Tem uma quebrada na música que me lembrou muito o Celebration of Supreme Evil do Murder Rape naquele clima bem sarcástico. Está entre as melhores do disco.

     Wrathful Tyrant, que energia...puta que pariu! Que riff! A música que fala de Pazuzu é daquelas músicas carregadas que passam  tanta energia furiosa quanto uma música de andamento mais violento. Uma das melhores músicas nacionais do ano. A faixa que se inicia de uma forma digna de clássicos cai pra abafadões onde o vocal gutural entra em ação, alguns momentos com aquela guitarra sem muito poderio sonoro mas que transmite uma energia desgraçada tipo Xantotol, não sei se consegui explicar muito bem mas é isso aí! Tem uma pegada bem grega no som, pegadas como Varathron marcam presença, principalmente início de carreira da banda.

     Beyond the Gates of Realms segue um misto das músicas anteriores do álbum, com passagens bem na linha do primeiro álbum e alguns riffs diferenciados que marcam esse novo trabalho. O álbum tem alguns elementos diferenciais que vão desde a pegada bruta diferente das músicas iniciais passando pelos teclados e órgãos e a velha pegada grega que assumiu papel principal nessas últimas músicas do álbum. A música é uma saudação aos Exus da Quimbanda.

     ...e Tenebris Mater vem pra selar este pacto. Da mesma pegada e qualidade que Wrathful Tyrant com uma passagem marcante de coro ela vem consolidar a qualidade de Rites of the Ancient Cults. Agora com toda segurança venho afirmar que esse trabalho superou o primeiro, sem tirar a importância de Necromantical Invocation é claro. Mas aqui a banda diminuiu a quantidade de músicas (são 3 a menos descontando a intro) e aumentou absurdamente a qualidade. A letra tratasse de Hecate, como informado pela banda após um erro de interpretação meu.


  
Book of Shadows - 2015




     Ainda em 2015 a banda lança com a mesma formação através da Misanthropic Records o 7' EP Book of Shadows, que conta com a música Under the Full Moon e o cover Symbol of Ignorance do Murder Rape.

     Fica então registrado minha visão sobre o trabalho da banda. E é isso, vejo muitos chorando uma época que nunca irá voltar e deixando assim passar despercebidas muitas bandas de qualidade. Também concordo que se olharmos o metal extremo de hoje no geral o fracasso é descarado e a decepção é certa, mas acredito que se voltarmos a atenção apenas para o que é válido e digno do verdadeiro underground...ainda estamos bem servidos!
     




Para o Reino do Caos ( To the Kingdom of Chaos - Tradução )



Destrua o que afoga os desejos do homem em uma inundação de moralidade santificadas
Que compromete as mentes com a sua doutrina repelente do pecado original
Que alimenta as mentiras com a sua fé comum e imunda
Um símbolo fracassado para um deus inativo e impotente


Introduza a grandeza da melancolia e da pureza do mal
A divindade da solidão irá expor o que é sagrado nesta terra
Para remover do mundo a monotonia da existência humana
Mostrando ao homem a sua escuridão espiritual


Salve a tríade diabólica!
Satanás - Mestre da angustia, o acusador inexorável!
Lúcifer - Mestre do fogo, o líder da luz!
Belial – Mestre da devastação, o senhor dos senhores!


Oh, senhor supremo da desolação,
Erradique  toda a bondade que suja as entranhas da terra
Consolidando o processo de ascensão da escuridão

Para governar eternamente em vigor e glória



Demo Killing for Religion - 1994
https://www.youtube.com/watch?v=cUIDdpH63Xw


Demo Bestial Devotion - 2010
https://www.youtube.com/watch?v=KCrAt0Azfqg


Necromantical Invocation - 2012
https://www.youtube.com/watch?v=7r_TUVKhB2U


Rites of the Ancient Cults - 2015
https://www.youtube.com/watch?v=8XlYkhgqCVI


7' EP Book of Shadows - 2015
https://www.youtube.com/watch?v=DgfLLYkMBC0


Por Deserto de Azazel