A intenção da criação deste blog se fez perante a necessidade de uma discussão séria sobre um dos gêneros mais polêmicos de todos os tempos dentro do metal, o black metal.
Este estilo tem particularidades ideológicas, filosóficas e musicais, que o distinguem de outras vertentes do metal.
Além disso, será debatido os vários subgêneros dentro do Black Metal para buscar compreender o porque destes diferentes rótulos, tais como pagan, atmosferic, NSBM, entre outros.
Por fim, serão postados entrevistas, álbuns e vídeos de bandas relacionadas ao estilo, assim como texto de grandes pensadores que influenciaram o Black Metal como um todo.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Crepúsculo dos Ídolos




Crepúsculo dos Ídolos



O Crepúsculo dos Ídolos é uma banda de black metal de Cascavel - Paraná. A primeira demo fora gravada em 2004, trazendo o nome da banda e conta com o logotipo na capa e um encarte com as letras de todas as oito músicas. Já nessa primeira demo conseguem fazer um som bem próprio com variações de andamento e um teclado bem presente com uma atmosfera muito forte na música. As letras tem grandes influências como Nietzsche e Crowley, são fortes críticas as religiões e todo tipo de adoração fazendo jus ao nome da banda:

Segue uma parte da entrevista ao http://thelegionoftchortzine.blogspot.com.br sobre a origem do nome:

T: Saludos Tenebrae! Porque el nombre de Crepúsculo Dos Ídolos? Han leído El crepúsculo de los ídolos un libro escrito en 1888 por el filósofo alemán Friedrich Nietzsche? De ahí quizás proviene el nombre de la banda

Tenebrae: Saudações a ti Carlos e aos leitores da TchorT Zine. Temos conhecimento não apenas do livro homônimo, mas de outras obras de Nietzsche. Dois dos membros da horda possuem graduação em Filosofia e admiram muito a obra deste grande poeta-filósofo que foi Nietzsche. Quando o nome foi escolhido eu não fazia parte da banda ainda. A meu ver o livro é bastante técnico e envolve uma crítica contundente acerca de grandes pensamentos tidos como verdadeiros, tais como a crença no sujeito, a crença na linguagem enquanto forma de discorrer sobre o real, a crença na própria materialidade do mundo e outros. Com o avanço das ciências a partir do Movimento Iluminista, estas passam cada vez mais a tomarem o lugar ocupado pela religião e a verdade torna-se o novo Deus, o novo Ídolo. Nietzsche era tanto avesso a um Deus criador, regulador e mantenedor do universo quanto à existência de Verdades Absolutas. Em suma, para ele, uma verdade deste tipo era apenas uma variação do conceito de Deus. A expressão “Crepúsculo dos Ídolos” quer se referir, desse modo, ao fim de todo e qualquer dogma, seja ele Deus, Demônio ou Verdade. Este nome nos influenciou imensamente nas primeiras duas Demos, nas quais criticamos mordazmente o cristianismo e seu análogo indissociável, o satanismo. Mas, como Iezide falará adiante, o nome vai adquirindo um significado diferente com o passar do tempo, a horda Crepúsculo dos Ídolos segue formando sua identidade e seu nome transcende esta proposta inicial, mas conserva ainda o vigor da luta contra os dogmas limitantes. O crepúsculo, enquanto fim do dia está prenhe do amanhã, seu tom é escuro, mas ainda conserva em si os raios da luz solar. A mistura de trevas e luz garante que mesmo na hora mais escura, surgirá um novo ciclo.


Iezide: 93! O Homem não escolhe. A “escolha” se dá no Homem. Nós fizemos uma lista com alguns nomes sugeridos pelos primeiros membros da banda. Somente eu sabia da associação deste nome com o Livro de Nietzsche, mas este foi o nome unânime escolhido por nós. Até hoje minha mente me dá novos significados para o nome “Crepúsculo dos Ídolos”, somente há alguns meses atrás eu me dei conta da relação entre o fenômeno natural crepúsculo com Anubis, outro fenômeno natural. Mas isso é outra coisa.



 Em 2006 surge Babilônia 666:




Babilônia 666



Provavelmente se eu estivesse escutado apenas o primeiro trabalho escreveria de uma forma bem mais empolgante sobre ele. Mas fui conhecer a banda prestes a lançar o álbum Thoth, sendo assim tive conhecimento de algumas músicas do álbum que foram divulgadas antecipadamente e do segundo trabalho, a demo Babilônia 666. Assim fica muito difícil descrevê-los sem fazer qualquer tipo de comparação já que são basicamente similares, basicamente. 

Em Babilônia 666 temos a mesma estrutura, temos o mesmo DNA só que a evolução é muito grande. Músicas mais precisas, coesas, empolgantes e envolventes. A demo Babilônia 666 é de fato um registro de nível elevado no underground brasileiro. Surpreende ainda mais por ser demo e ter pouca divulgação devido a qualidade que encontramos aqui. Tem conteúdo suficiente pra bater de frente com muito full-length por aí, vale muito a pena adquirir o material com as letras de todas as músicas.

O trabalho tem início com uma faixa instrumental assim como o primeiro trabalho, aqui já é possível ter ideia do que está por vir. O teclado sempre muito presente mas longe de deixar o som meloso, sua função é de proporcionar uma atmosfera mais profunda.

Após a introdução vem a música Satanás que resume o pensamento da banda a respeito do satanismo:

“Reconheço-te ainda. Mas não como existência.Matamos-te
Mas quando do crepúsculo ao negro,
Meu espírito se deleita em trevas,
E uma força revigora minha alma,
É a ti que reconheço.
Desdobramento de meu-ser,
Doce demônio em minhas mãos,
Uso-te ao meu poder,
Adorar-te é um erro,
Mas como meios aos meus fins tu é,
Satanás-Eu.’’




O trabalho segue com Opus Thelema e o clima da guitarra e baixo aliado a passagens do teclado segue numa harmonia surpreendente. É uma música cheia de variações no andamento. As faixas tem a média de 8 minutos de duração que dão a impressão de passarem mais rápido devido versatilidade sonora, raramente encontra-se momentos de grande repetição de riffs, aliás todos os instrumentos se alternam muito bem.

Então vem a faixa título que arrepia os cabelos, Babilônia 666 ,adrenalina corre solta pelo corpo. Uma sonoridade muito bela e contagiante, a melhor em minha opinião. Segue uma passagem da música:


''Arranca tua mãe de teu coração,
 Cuspa na face de teu pai,
 Pise no ventre da mulher que escolheu,
 Que a criança em seu colo seja presa de abutres’’


A liberdade sempre como foco principal, a vontade do homem sempre em primeiro lugar.


Deicídio Satãcristo começa num clima arrastado e sarcástico, depois variando andamentos chega em momento onde o thrash metal é lembrado, passa por passagens lentas aonde o teclado ganha muita força e presença. Sempre variando e progredindo, com poucas repetições a música vai se transformando e inovando. O vocal é forte e rasgado mas se pode entender perfeitamente as palavras.

Guitarra intima e teclado faz clima de mistério, tensão. Rapidamente a música se eleva em energia e urros perfeitos em harmonia com dedilhados e teclado extasiante, tudo isso em um andamento muito tranquilo na bateria que normalmente varia suas batidas, sempre alternando. Aurora dos Homens é uma grande música que da sequência a uma instrumental que finaliza o material em grande estilo.





Thoth



Em 2009 sai o full-length Thoth, e agora eles conseguem fazer um nível de gravação muito superior com guitarras pesadas e bateria mais marcante e mais porrada.

Tudo evoluiu para melhor mas suas características continuam presente, mesmas estruturas musicais, mesmo estilo de vocal, teclado e etc. Agressividade e melodia na hora certa. Grande evolução para as letras que é um dos destaques de um trabalho que tem como tema o tarô. Um trabalho muito original e ainda por cima todo em português que fica marcado no underground nacional.

O álbum contém a intro Banquete de Sangue e mais 8 músicas, cada uma referente a uma carta do tarô. Por se tratar de algo complexo vou postar cada carta referente a música e nada melhor que os comentários do próprio autor Iezide (guitarrista e compositor) que também comenta a respeito de Thoth.


A capa traz o homem pendurado do baralho egípcio alterado por Aleister Crowley.


Thoth é o nome grego para o deus da sabedoria. Tahuti para os egípcios, Hermes para os Romanos e outros nomes em culturas diferentes. É um princípio da existência, uma substância, um comportamento da natureza que se manifesta no homem. É a possibilidade do existente de se arranjar no seu habitat; é a forma que ele adota para se relacionar com o que o cerca conforme a sua forma; é a possibilidade do existente de ser maleável, mutável, de se adaptar no sentido de mudar suas constituições. Thoth é Mercúrio. É a palavra pensada e escrita, o verbo, ou seja, a comunicação, o transmitir e acumular, não somente de maneira escrita e falada, mas antes disto, a própria partícula possuindo estas possibilidades. Logo, Thoth, também é ação sem palavra, o pensamento que é pura ação e não cogitação. Sabedoria como uma ação em silêncio.

Foi Thoth que classificou os elementos e os nomeou. Assim, o Álbum Thoth do “Crepúsculo dos Ídolos”, é uma classificação de alguns elementos da natureza. Nós entendemos que a Volúpia, a Morte, o Imperador, o Aeon, o Mago, a Alta Sacerdotisa, o Louco e o Diabo, assim como os números que os representam são elementos da natureza, como o oxigênio e o Hidrogênio, não diferente deles, mais iguais. O oxigênio possui pensamento, sentimento e vontade e causa estas coisas ao contato com outro existente. A Volúpia (ex) é um elemento psico-físico (sendo que, no final das contas, não há diferença de nenhuma espécie entre o psíquico e o físico,

O Álbum é baseado no tarô, que é a “tabela periódica” dos elementos da natureza descritos em sua forma de descrição chamada psíquica (ou espiritual, não separo o psíquico do físico).



Volúpia



Assim, Volúpia (a primeira carta descrita no cd) pode ser (era) chamada também de Força. Uma coisa a ser salientada é que nós seguimos as instruções nomeclaturais do Frater VVVVV . A Força é descrita aqui como relacionada ao prazer, seria como dizer que a mais alta força carrega o mais alto prazer, e o mais alto prazer carrega a mais alta força; também que o maior prazer sentido é quando a força realiza o seu propósito. Eu estou falando em níveis comportamentais e atômicos (não há diferença). Assim volúpia é o prazer e a força unidos. O prazer engloba todas as coisas em sua máxima força, o prazer não faz distinção e não se limita ao gosto. O máximo prazer ultrapassa o gosto, o gosto limita a força do prazer. A Força em sua plenitude é realização plena sem restrição. Ela não conhece o medo ou a dor ou a derrota, ela ultrapassou a derrota e a fraqueza, a máxima força é ação continua. Em termos de comportamento humano, poderíamos falar que uma pessoa voluptuosa, no sentido descrito, possui o prazer na força e a força no prazer. Ela sabe que estrela ela é, sua ação se torna um êxtase de criação.



Mago



Já o Mago é o comportamento da natureza que se relaciona ao salto, ao pulo, quando o existente ultrapassa os limites de sua própria constituição e vai alem. No sentido natural, seria quando o animal ultrapassa seu instinto e predisposição genética e muda a cadeia das gerações futuras atreves de sí. Em termos sociais, o Mago é o ser que muda a sociedade em que está inserido implantando uma nova lei. Uma nova lei no meio (reino) em que está inserido, se for um cientista mudará a ciência, um religioso a religião e assim por diante. O Mago é também o anunciador de um novo aeon. É também, em Magia, o ser que possui todo o poder sobre os elementos da natureza e os manipula como quiser em prol de sua palavra que é blasfêmia.



Imperador



O Imperador, já se pode imaginar. Mas existem duas ênfases dadas na música que eu gostaria de comentar com vocês. Primeira é o fato de o corpo ser um império, e que um império sólido possui um longo imperador, e que um império que troca constantemente de imperador é sempre um reino fraco. Assim, o corpo-mente deveria possuir um imperador soberano. Em termos thelemicos, uma única vontade dirigente que é a plenitude máxima de tal corpo-mente em questão. O outro aspecto é o fato do ultimo rei, do ultimo reinado, a ultima democracia, a tese do imperador “proclamado e calado” o ultimo rei que destruirá as correntes. Os outros aspectos são astrológicos.



Alta Sacerdotisa



A Alta sacerdotisa é a própria magia. Todo ato é um ato mágico. Todo ato é um ato de amor. Todo ato e o contado de uma coisa com outra. A alta sacerdotisa é o processo de amor que o universo é, ou seja, relação de tudo com tudo, da parte com o todo, de modo a ultrapassar a barreira da parte e o todo, mas, toda via, ainda sendo a parte e o todo (não espero ser entendido em poucas palavras). Contradição é unidade. Nós fazemos magia o tempo todo.



Aeon



O AEON, bem, esta carta representa os intervalos entre os degraus da escada, não somente o degrau, mas o mudar de degraus. Representa o degrau por se tratar do presente tempo (aeon), o tempo da força e fogo e silêncio e amor. A música fala mais sobre o presente AEON o de Hórus, a criança gêmea por isso a força e o silencia, a força como inocência e plenitude de realização, silêncio.



Louco



Bem, o Louco é um estado de espírito. Ingenuidade, inocência, ação pura desprovida de ego. Em aspectos da natureza, acredito que a loucura santa aqui descrita seja um estado de perfeição do ente quando ele realiza toda sua plenitude e possibilidade e já não tem mais nada o que saber ou conquistar (a ação é aqui e agora, e conquistar e perseguir, o louco não persegue, não porque lhe foi as forças, ou porque ele está perdido, ou não quer mais saber de construir nada. A ação do louco é um trabalho e um fazer, mas sem planos, sem meta, sem desejo, é ação pura do aqui e agora, é realização completa porque ele não está esperando para se realizar, ele já é realização pura, então, o louco brinca no jardim dos homens tomando sua fartura de amor e prazer das flores do jardim, amando tudo, sorrindo, extremamente feliz, trabalhando contente no cosmo, e o trabalho é uma brincadeira muito divertida).



Diabo



Sobre o Diabo, olhem, o “Ego” é o diabo agora. Aqui estou usando o arquétipo do inimigo, embora não aja inimigo, aqui o “erro” é aquele da ignorância, e a ignorância não precisa ser entendida como algo errado. Bem, o fato é que o “ego”, ou “eu” não existe, no sentido de que o homem não é responsável por nada, nem uma ação ou pensamento ou vontade (esta tese nunca será compreendida se não for entendida pela experiência de auto-observação constante; depois disso ela se torna carne [modo de vida] e a pessoa [ego, eu], se perde no amado, se rende aquilo que sempre esteve no controle, os demiurgos que manifestam suas existências em nós. Eu sei, eu não disse que seria fácil de se entender, embora eu não tenha feito nada e tudo aconteceu em mim [tese]. Também, na música, o diabo é retratado como o puro poder, a própria ação, o movimento de destruição e criação (é a mesma coisa), então o diabo (shaitan, augoide, sagrado anjo guardião, sua verdadeira essência, que é pura criação e luz) se manifesta em você.



Morte



Sobre a morte. Morte é tudo. Ou seja, morte é o movimento, a mudança, e a vida é movimento e mudança. Não há, neste movimento morte realmente, ou seja, desaparecimento, aniquilação e fim, a existência não pode deixar de existir, assim como ela não pode surgir, onde o nada é eliminado do enredo (deste enredo). E, em todo caso, “você alma de escorpião imundo, volta-te seu ferrão sobre si quando rodeado pelo fogo”, seu moribundo doente. Nós, andarilhos do espaço infinito e das formas infinitas. Nós que destruímos a eternidade e a restrição. Nós que adoramos a mudança o novo, o mutável, a aventura. Nós, nós amamos a morte.



Conheça e se apreciar compre. Apoiem a cena nacional, o cd está saindo a um preço bem acessível.



Crepúsculo dos Ídolos

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