Um dos pilares do Black Metal
brasileiro e principal fonte pagã na música extrema nacional. O Miasthenia
chegou a um patamar bastante elevado tanto na parte musical quanto na parte
lírica com extremo profissionalismo aliado ao espírito underground que continua
queimando depois de mais de 20 anos de existência. Atingir um nível alto de
profissionalismo costuma ser um problema se tratando de música extrema pois
existem inúmeros exemplos de bandas que evoluíram bastante na parte
instrumental e com isso foram perdendo um pouco ou quase toda essência de suas
músicas. Com eles foi o contrário, pois conseguiram usar a técnica para
expressar mais forte ainda o sentimento dedicado pela banda a arte extrema e ao
paganismo das Américas.
Sonoramente o Miasthenia vem se tornando extremamente técnico e mais brutal a cada album e este pra mim é o ápice, melhor album da banda...sem desmerecer os outros clássicos mas é só escutar ele pra ter noção. Em Supremacia Ancestral a banda fez
uma enorme colaboração não somente para o underground como também para a
História de nosso continente. Pois o encarte do cd vem com 2 páginas dedicadas
a história verídica de cada música, todas sobre resistências dos ameríndios a
colonização e cristianização das antigas culturas. É um trabalho que se fosse lançado com um livreto A5 ficaria demais, tendo espaço para ilustração de cada música junto a sua história.
Assunto esse que o sistema esconde
de nós desde o início em aulas e livros escolares, ressaltando sempre uma visão
de glória européia e cristã da situação toda. Como se houvesse uma descoberta
de um novo mundo e que os nativos desse mundo foram salvos por uma cultura superior. Eles retardam nosso aprendizado
numa tentativa de modificar a história real e acabam conseguindo na maioria das
pessoas conformadas e de pouco questionamento.
É o tal da “história é contada pelos
vencedores”, mas esse tipo de vencedor que distorce tudo a seu favor é um mero
vencedor bélico e um verdadeiro perdedor em questão de moral e espiritualidade.
Pra mim os únicos vencedores nessa situação toda foram aqueles que lutaram por
suas crenças, família e seu território mesmo que isso tenha custado a própria
vida. Então escondendo o lado honrado do povo verdadeiramente guerreiro é uma
“bela” de uma ferramenta de manipulação, pois se tira a honra de um povo que
perdeu uma guerra não sobra nada e isso é o suficiente para manipular a massa
que em sua maioria não faz o mínimo de esforço para questionar o que lhe é
enfiado pela guela abaixo.
Arte feita por Latuff, retirada do site Geo-Metal |
E essas informações contidas no
encarte foram buscadas em documentos da época que são pouquíssimo
divulgado. As letras são elaboradas pela
vocalista, tecladista Hécate, que também é fundadora da banda, é uma
profissional na área de história.
Em uma entrevista ao site Criado
Mundo ela fala mais detalhadamente sobre sua relação profissional com a banda:
Anderson: Hécate, por favor, você poderia falar do seu
trabalho acadêmico e de como ele se relaciona com a temática tratada pela
banda?
Hécate – Sim, eu fiz mestrado (2000) e doutorado (2006) em História da América, analisei crônicas espanholas escritas nos séculos XVI e XVII sobre os Incas do antigo Peru. A análise e “desconstrução” de discursos colonialistas e demonológicos sobre as diferenças confrontadas na América é parte de minhas preocupações ideológicas pós-coloniais e que de fato estão ligadas à proposta temática do Miasthenia. Mergulhei nestes estudos em busca de uma “história do possível” que revelasse outras formas de entendimento do sagrado, da história, da natureza, do corpo, das identidades e relações entre os sexos, diferentes do ponto vista cristão colonialista que tendeu a ocultar e desclassificar tudo o que parecia ameaçar o poder e a ordem política e social dos colonizadores. Já que estavam interessados em apagar toda e qualquer crença ou visão de mundo pagã que colocassem em questionamento os preceitos e moralidade cristã.
Deuses da Aurora Ancestral:
Formação Supremacia Ancestral:
Hécate: vocal e teclado
Thormianak: guitarra
Mist: baixo
Hamon: bateria
Nos séculos
XVI e XVII a América conheceu, em toda parte, casos de profetas xamãs que
anunciavam a derrota do deus cristão e o retorno dos antigos deuses, o que
resultou em algumas manifestações de ódio e revolta contra a ação missionária
cristã. Os seguidores das antigas religiões e filosofias pré-colombianas foram
perseguidos e condenados pelos inquisitores e extirpadores das idolatrias. No
entanto, a História Oficial ocultou durante muitos séculos essa resistência
ameríndia à cristianização, enaltecendo os missionários e conquistadores que
desembarcaram na América. Este álbum narra Outras Histórias, baseada em
documentos coloniais, onde o esplendor das civilizações e tribos
pré-colombianas permanece vivo na memória, exaltando a honra e o espírito
bravio dos guerreiros que resistiram à cristianização.
Exortações de Ocelotl:
Em 1530 no
México, o bispo Zumárraga os perseguiu com poderes inquisitoriais. Martin
Ocelotl (jaguar) protagonizou uma das mais celebras causas desses primeiros
tempos, e foi acusado de idolatria de feitiçaria junto ao Santo Ofício. Ocelotl
dizia ter sido o único sobrevivente da matança ordenada por Montezuma que, desgostoso
com os presságios sobre a vinda de Cortez, resolvera punir todos os adivinhos
astecas, Ocelotl renegou o cristianismo e iniciou uma pregação contra os
padres. Por onde passava dizia que a humanidade estava sendo destruída pela
chegada dos “apóstolos de cristo” (=franciscanos). Se “apóstolos monstruoso
haviam derrotado o “sol asteca”, ele, Ocelotl, venceria o “sol franciscano”
anunciava o profeta, insistindo para que os astecas renegassem o catolicismo.
As exortações de Ocelotl se concretizaram em uma seita anti-cristã que
celebrava os ritos em pro de Camaxtli e fazia sacrifícios ao deus Tlaloc.
Taqui Ongo:
O movimento
conhecido como Taqui Ongo surgiu no Peru central durante os anos de 1560. Era
uma seita organizada e hostil à presença dos colonizadores cristãos. Taqui
significa “canto” ou “dança”, na língua quéchua, enquanto ongo se refere a
“enfermidade”. Para os cristãos era sobretudo uma heresia, na qual os povos
andinos renegavam o cristianismo e retornavam aos deuses antigos; para os
adeptos, tratava-se antes de tudo de uma cerimônia, a “dança da enfermidade” ou
“enfermidade da dança”, a ritualização da tragédia dos antigos deuses que
estavam a vagar abandonados pela falta de sacrifícios e oferendas rituais de
outrora. Sacerdotes percorriam as aldeias, a modo de xamãs, e anunciavam a
chegada de uma nova era, tempo em que os conquistadores e seu deus seriam
expulsos da Terra, entronizando-se em seu lugar as huacas, divindades
ancestrais. Possuídos pelas huacas e xamãs prediziam sua vitória em meio aos
cantos e danças da multidão.
Tawantinsuyo:
Em 1537 surge
o império neo-inca, na inacessível região de Victos. Refúgio de parte da
dinastia incaica que não se curvava à dominação colonial, este reino foi o
bastião maior da resistência ao colonialismo e cristianização do Peru. Ali se
restauraram o culto solar e a divinização do imperador inca, da lua, múmias
imperiais e das huacas. Os incas de Vilcabamba pregavam abertamente contra a
religião cristã e a opressão colonial. O inca chegou a massacrar certas aldeias
e a destruir huacas de povos que haviam aderido ao cristianismo. Até o ano de
1572 o império neo-inca moveu guerras contra os colonizadores.
Tzompantli (instrumental):
Os antigos
mesoamericanos tinham o costume de decapitar as vítimas dos sacrifícios humanos
e conservar os seus crânios empalados no Tzomplantli, um altar de pedras e
troncos de madeira para a exibição pública das cabeças dos prisioneiros de
guerra. Em honra aos deuses o Tzomplantli representava uma manifestação do
poder bélico e do espírito guerreiro em tempo pré-colombianos.
Guerra de Mixton:
Entre 1541 e
1542, na Nova Galícia (norte, costa do pacífico) especialmente no vale do
Tlautenaugo, os xamãs anunciavam a vinda de Tlaloc e de todos os ancestrais
ressucitados, pregando o expurgo dos costumes cristãos, dos sacramentos e uma
luta contra os cristãos. Os que perseverassem no catolicismo seriam privados da
luz do dia e devorados por bestas ferozes. Oss que retornassem às tradições dos
antepassados e fossem à guerra recebiam a ajuda de Tlaloc. Incendiaram igrejas,
destruíram cruzes, mataram missionários e chegaram a obter vitória na luta
defensiva contra a repressão colonial cristã.
Idolatrias:
No século XVII,
na região das missões jesuítas do Ria da Prata, os xamãns guaranis, empenhados
em valorizar as divindades ancestrais, encarnavam os homens-deuses da mitologia
guarani. Percorrendo as aldeias, falavam como o antepassado mítico,
Nhanderuvuçu, o senhor da morte, prometeu salvar os guaranis das garras dos
missionários. Alguns organizaram seitas, a exemplo, do santos óleos. Em 1645
Nheçu chegou a ter sua própria igreja apostata onde sacrificou exemplarmente
dois jesuítas capturados nas missões.
Kayanerehn Kowa:
No início do
século XVI surge a Kayanerenh Kowa, a grande aliança das cinco sombrias tribos
guerreiras iroqueses. Entre eles se destacavam os Mohawks. Em 1625 um grupo de
jesuítas tentava evangelizar essas tribos norte-americanas, mas os iroqueses
resistiram ao evangelho durante séculos. Em um episódio os iroqueses invadem
com violência a aldeia onde estava o padre Jean de Brébeuf e o submetem a uma longa
e agonizante série de torturas. Vendo que entre os tormentos o padre não
cessava de exortá-los e clamar pelo seu mísero deus, os iroqueses lhe abriram o
peito e arrancaram-lhe o coração palpitante, finalmente beberam-lhe o sangue.
Os padres Jogue e Juan de Lalande tiveram suas cabeças cortadas e empaladas ao
redor da aldeia Mohawk e seus corpos foram jogados no rio. Denominado pelos
Mohawks como o “Hábito Negro”, o intruso veio pregar a luz, se vê envolvido nas
trevas. No meio desses tormentos, o herói mohawk cantava de maneira bárbara e
heróica, a glória de suas antigas vitórias, cantava o prazer que sentiu outrora
imolar seus inimigos.
Formação Supremacia Ancestral:
Hécate: vocal e teclado
Thormianak: guitarra
Mist: baixo
Hamon: bateria
Imagem do encarte do album XVI (2000). Foto editada e tirada por Susane Hécate em Sacsayhuamán (Cuzco) no Peru em 1997. Uma "fortaleza cerimonial" dos Incas, constuída entre os século XV e XVI, na época de seu apogeu.
Vídeo do lançamento de Supremacia Ancestral:
Exortações de Ocelotl:
Taqui Ongo:
Download Miasthenia - Supremacia Ancestral ( com autorização da banda, já que o álbum está esgotado):
http://www.4shared.com/rar/CL1o4QAR/miasthenia_-_supremacia_ancest.html
Busque sempre obter o material original, o novo álbum Legados do Inframundo ainda está disponível nas gravadoras que lançaram o álbum:
www.misanthropic.com.br
www.mutilationrec.loja2.com.br
Deserto de Azazel
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